quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Terceira Idade mostra que tecnologia não é exclusividade da juventude




Ana Carolina Rocha e Carla Saemi, repórteres iG em São Paulo - Ultimosegundo - 26/Fev/2002

O doutor Antonio Varela, 82, e sua esposa Maria Silvia, 78, navegando pela Internet:

"A gente tem que de atualizar em tudo. Quando eu era criança, o telefone era à manivela e hoje em dia eu carrego esse celular comigo (se referindo a um minúsculo aparelho que carrega no bolso da camisa)", conta o médico doutor Antonio Varela Junqueira de Almeida, 82, que acessa a Internet há, pelo menos, quatro anos.
O computador apareceu em sua rotina quando uma filha que mora no Rio de Janeiro deixou um PC em sua casa para facilitar a comunicação entre eles e para trabalhar, quando estivesse em São Paulo. Os netos foram responsáveis pelas aulas de informática e, atualmente, doutor Varela utiliza a máquina com tamanha desenvoltura que considera até mesmo o e-mail um canal de comunicação obsoleto.
"Converso com o meu neto e a esposa dele que vivem em Chicago, nos EUA, por meio desses serviços de Instant Messages (programa de mensagens instantâneas). Não preciso enviar e-mail a ele. Para mandar uma carta eu preciso postar, ir até o correio, saber se a quantidade de selo é suficiente Quando meu neto está conectado ao PC, recebo uma mensagem e posso conversar na mesma hora", diz. Além da comunicação com a família, doutor Varela e sua esposa Maria Silvia Junqueira de Almeida, 78, navegam por sites de notícias e museus, entre outros.
"Quando o computador chegou aqui, fiquei tão ansiosa que tive insônia durante a noite e decidi dar uma olhada na Internet. A primeira coisa que me deparei foi com um site sobre a Amazônia. Eles pediam para os internautas enviar um e-mail e eu mandei. Recebi a resposta e fiquei encantada", conta Maria Silvia que, assim como o doutor Varela, é "viciada" no jogo de cartas FreeCell. Mas o computador não serve apenas para o entretenimento na casa do doutor Varela, que exerce a medicina desde 1944. A rede mundial de computadores também é utilizada em suas pesquisas. "Há algum tempo, tive de desenvolver um trabalho e consultei uma bibliografia que havia sido atualizada naquele dia. Não poderia encontrar conteúdo mais atual que essa em lugar nenhum", comenta.
As novas tecnologias são ferramentas de trabalhos também para o contador, economista, administrador de empresas e advogado Arnaldo Bilton, 80. Há um ano ele começou a ter aulas de informática uma vez por semana e, hoje em dia, utiliza o computador na elaboração dos gráficos e estatísticos que faz em seu serviço de assessoria contábil. "Usar máquina de escrever e calculadora não dá mais".

Capacidade Total


Imaginar uma pessoa da terceira idade (acima de 65 anos) utilizando tecnologias pode ser estranho para alguns, mas os casos mencionados não são aberrações. De acordo com levantamento de janeiro de 2002 do Ibope eRatings, 1,5% dos 6,3 milhões de internautas domésticos brasileiros têm mais de 65 anos. Nos EUA, terra natal da Internet, a porcentagem é ainda maior. Os idosos totalizam 7,01% dos 80,8 milhões de usuários domésticos. No Brasil, porém, os internautas da terceira idade permanecem mais tempo conectados que os norte-americanos. Os brasileiros ficam, em média, cinco horas e 58 minutos por mês, contra três horas e 40 minutos dos americanos. Esse índice é superior ao registrado na faixa etária de dois a 11 anos, em que os usuários passam, em média, três horas e 26 minutos conectados ao mês. A única vantagem que aquele grupo possui é a agilidade na aquisição de novos conhecimentos.
De acordo com a professora doutora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, o cérebro humano saudável é capaz de absorver informações até morrer, mas, com o passar do tempo, ocorre um processo de lentificação no aprendizado. A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Tereza Bilton, diz também que "é claro que existem algumas limitações físicas como a visão e os movimentos. Porém, esses problemas são facilmente contornáveis. É só utilizar equipamentos mais adequados, como teclados e monitores maiores", explica. "Tenho muitos pacientes na faixa dos 80 anos que usam o computador e percebo que o aprendizado deles é sensacional. Essa atividade traz muitos benefícios às pessoas nessa idade, pois estimula o raciocínio, a percepção e a atenção, entre outros fatores".
O coordenador regional da área de geriatria da Associação Brasileira de Psiquiatria, Cássio Bottino concorda com Tereza. "Alguns estudos feitos nos EUA mostram que o envelhecimento dificulta a memória secundária, responsável por novos conhecimentos, mas essa dificuldade significa lentidão e não impossibilidade. Se houver estimulação e aplicação por parte do idoso, ele está apto a aprender informática, como para qualquer outra coisa", explica. "O uso do computador é aconselhável, pois desperta a atividade intelectual". A doutora Yeda, porém, observa que "existem alguns quadros patológicos que reduzem a capacidade de aprender. A depressão, por exemplo, reduz a concentração das pessoas e ela é muito comum entre idosos", explica. "Algumas situações sociais também podem diminuir o interesse de aprendizagem como o isolamento, a solidão, mas isso não é uma regra, há pessoas que vivem em asilos e continuam querendo aprender", diz a médica.
A prova disso é a curiosidade de Benjamin Cohen, 79, que vive há um ano e quatro meses no lar para idosos Golda Meir e participa há sete meses de aulas de tecnologia, ministradas por estudantes do segundo grau, voluntários do projeto "Aprendiz". "Isso é fabuloso", diz Cohen sobre o game que permite matar virtualmente o terrorista Osama bin Laden, que recebeu por e-mail. Ele é acompanhado todo o tempo pelas estudantes Cecília Silva Coelho e Carolina de Castilho. "Eles aprendem rapidamente e, muitas vezes, basta ficar do lado observando para dar segurança", diz Carolina.

Efeito colateral

Eva Dammann, 79, que visita o lar Golda Meir periodicamente para participar das aulas, brinca dizendo que "brigou a tarde toda com o computador". Acompanhada pela monitora Juliana Rodrigues, ela navega por sites de notícias de Israel, Alemanha e EUA, checa e-mails, e mostra que a "luta" não passa de modéstia. Em sua casa, o computador chegou há dois anos, trazido pelo filho que queria deixar os pais mais atualizados. "Meu marido freqüentou o curso por dois anos, mas não gostou e agora tem aversão à tecnologia. Ele escreve cartas somente em nossa (máquina de escrever) Hemington e manda pelo correio".

Extraído do noticiário: UltimoSegundo - 26/Fev/2002
http://ultimosegundo.ig.com.br/home/cadernoi/artigo/0,2945,688691,00.html

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